O livro do ano de NYC: “Americanah”, de Chimamanda Ngozi Adichie


Foto: Arquivo pessoal

Texto escrito em 28 de junho

O livro do ano de NYC: " Americanah", de Chimamanda Ngozi Adichie

Em fevereiro deste ano, foi lançada, aqui em NYC, uma campanha chamada One Book, One New York, que incentivava os leitores da cidade a escolherem um romance (entre cinco opções). A ideia era que um bom livro fosse escolhido para ser lido ao mesmo tempo por toda a comunidade novaiorquina de admiradores da boa literatura. Em março, saiu o resultado da votação e o livro escolhido foi Americanah, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. 
A primeira vez que ouvi falar na Chimamanda foi em 2015. Minha amiga Juliana Lizzi, professora de inglês, tentava me ajudar na minha eterna vontade de melhorar esse idioma e me sugeriu uma série de materiais atrativos. Um deles foi uma palestra TED dessa autora. Ju, entusiasta das questões feministas, me indicou a palestra We should all be feminists. Assisti muito animada, mas não tive uma total compreensão do que ela dizia, pois não havia nenhuma opção de legenda disponível.
Pouco tempo depois, uma outra amigona (sim, eu tenho as melhores amigas!!!), Rejane Calazans, também me falou sobre a autora. Rej, também envolvida nas questões feministas, me falou sobre o engajamento de Chimamanda nessa área e sobre alguns de seus livros. 
O tempo passou, e em fevereiro deste ano, desembarquei em NYC, e me deparei com os anúncios dessa campanha One book, one New York no metrô da cidade. Nos cartazes, reconheci o nome “Chimamanda” na capa de um dos cinco livros e reconheci a foto da autora. 
Alguns meses se passaram e virei habitué da New York Public Library. Depois de devorar a tetralogia da Elena Ferrante (que eu adorei e que também foi uma indicação da Rejane, mas essa já é outra história), decidi começar a ler o livro Americanah. Hoje, terminei de ler e já estou saudosa.
O livro fala de amor, migracão, identidade e racismo. Narra a vida de Ifemelu, uma jovem nigeriana que vivia em Lagos, principal cidade da Nigéria. A história se inicia na década de 90, quando o país vivia momentos difíceis com um governo militar. Naquele contexto, em que as universidades estavam em uma situação bastante crítica, Ifemelu decidi mudar-se para os Estados Unidos. Seu namorado, Obinze, não parte com ela naquele momento. Mas, entre eles, fica a promessa de reencontro no novo país. No entanto, durante esse intervalo, acontecem os atentados terroristas de 11 de setembro e o endurecimento das regras de entrada nos Estados Unidos. Obinze tem o seu visto negado diversas vezes. O plano do casal é frustrado e o encontro nos Estados Unidos nunca acontece. 
Ifemelu passa por imensas dificuldades no início de sua vida nos Estados Unidos, apesar de já ter uma tia e um primo vivendo nesse país. Mas, o tempo passa e ela alcança uma formação acadêmica sólida e se torna uma blogueira de sucesso. Nos EUA, Ifemelu se descobre negra. Na Nigéria, ela nunca havia refletido sobre raça e identidade, mas na América, ela se depara diariamente com esse tema e decide escrever sobre o assunto. De forma direta e ao mesmo tempo irônica, ela escreve em seu blog sobre o racismo (muitas vezes velado) nos EUA. 
Depois de mais de uma década no país, Ifemelu decide voltar para a Nigéria. No retorno a Lagos, ela experimenta muitas sensações de estranhamento (passa a achar a cidade feia, sofre pra respirar devido à alta umidade, se choca ao perceber que todas as suas amigas mulheres estão casadas ou estão obcecadas a procura de um marido), mas também experimenta sensações de pertencimento. 
Em Lagos, ela reencontra Obinze, agora um homem muito rico, casado e com uma filha. Eles haviam trocado algumas mensagens um pouco antes da partida dela dos EUA. O reencontro entre os dois é impactante. Antigas e novas emoções afloram. 
Embora Chimamanda negue que o livro seja autobiográfico, como muitas pessoas acreditam, ela confirma que escreveu influenciada tanto por vivências suas quanto pelas de outras pessoas conhecidas suas. 
O termo Americanah, título do livro, é uma brincadeira, era a forma utilizada por Ifemelu e seus amigos para se referirem às pessoas que retornavam à Nigeria depois de temporadas nos Estados Unidos e forçavam o sotaque do inglês americano para diferenciá-lo do inglês falado na Nigéria. 
Um dos momentos mais emocionantes do livro pra mim, - talvez devido ao contraste com o momento atual, em que Donald Trump governa os EUA, - foi o da eleição de Barack Obama para a presidência. A emoção de Ifemelu, Blaine (seu companheiro americano na época) e seus amigos foi genuína e me emocionou. Essa foi, aliás, uma das poucas circunstâncias em que Ifemelu esteve em completa sintonia com os amigos de Blaine, que ela qualificava como “a esquerda de Yale”. 
Em 5 de junho, ainda no contexto da campanha One book, one New York, quinhentas pessoas lotaram o auditório do prédio principal da New York Public Library para um bate papo com a autora. Ela foi entrevistada e depois respondeu a perguntas do público. Eu assisti de casa, pelo computador. Chimamanda é maravilhosa. Inteligente, irônica, doce e ao mesmo tempo objetiva e direta. Fiquei encantada com ela. Certamente vou ler outros dos seus livros.
PS1: O livro foi publicado no Brasil pela Cia das Letras
PS2: Se você já leu esse ou outro livro da Chimamanda, comente o que achou. Vou adorar saber a sua opinião!

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